segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

De Volta ao Lar - Parte 5: Perguntas e Respostas

Os primeiros raios do sol entravam pela janela do salão quando Mestre Sheng declarou o término do teste. Kensei já sabia o resultado. Ele tinha se saído muito bem, respondendo cada questão sobre história da China e filosofia budista com calma e desenvoltura. Apesar da certeza da aprovação e da felicidade que a acompanhava, estava esgotado. Passou a noite inteira sendo indagado pelo ancião e tentando manter a mente serena para não ser dominado pelo nervosismo e agora tudo o que queria era dormir por algumas horas.
Demorou-se por alguns minutos sentado na almofada que lhe foi reservada na noite anterior enquanto o mestre deixava o salão e, por fim, levantou-se decidido a ir para seu quarto o mais rápido possível e cair na cama. Mas, a julgar pelo movimento que encontrou nos corredores quando deixou o local do teste, logo notou que dormir não seria viável.
Os moradores do templo andavam freneticamente para lá e para cá, gritando ordens uns com os outros para apressarem-se ao pátio. Kensei seguiu os monges que corriam pelo templo com curiosidade e preocupação, irritando-se a cada vez que eles insistiam em ignorar suas perguntas. Algo sério estava acontecendo e ninguém o informava. Assim que chegou ao pátio central, onde todos se exercitavam e treinavam, encontrou uma multidão e soube que ali teria suas dúvidas sanadas.
Mestre Sheng já estava no local, com uma expressão preocupada no rosto. Ele alisava sua longa barba enquanto pensava, compenetrado. Parecia que estava prestes a tomar uma decisão difícil, tarefa que a noite em claro sabatinando Kensei tornava mais complicada. Ao lado do Mestre, Jack Punch esperava pela decisão, como todos os outros presentes. Kensei viu que dois monges seguravam um homem inconsciente, vestido de preto da cabeça aos pés. Aproximou-se de Jack e sussurrou:
- O que está acontecendo?
- Capturei um invasor. Ele tentou entrar aqui essa madrugada. - Jack respondia num sussurro quase inaudível.
Kensei olhou para o homem.
- Um ninja? Aqui?
- Não.
- Como você sabe?
- Eu o conheço. Já lutou comigo nos Estados Unidos.
Finalmente o Mestre se pronunciou:
- Levem o invasor para a despensa. Amarrem-no e alimentem-no. Amanhã irei interrogá-lo.
Assim que o invasor foi levado, a multidão começou a se dispersar. Alheio ao movimento em sua volta, Kensei continuou conversando com Jack:
- Explica isso direito.
- Ele se chama Wang. É um chinês que lutou no meu time num torneio patrocinado pelo Balrog, em Las Vegas, ou pelo menos deveria lutar! Desertou e me deixou na mão pra lutar sozinho naquela merda. Sumiu e nunca mais tive notícias dele.
- E foi reencontrá-lo aqui. Que mundo pequeno...
- Mundo pequeno o cacete! Esse filho-da-puta tem muito o que explicar pra mim. Onde fica a despensa?
- Na outra ala, te levo até lá quando ele acordar. E eu também! To morto de sono, vou dormir um pouco e depois a gente vai falar com ele.

Kensei acordou no final da tarde. Jack já o esperava. Andaram juntos, em silêncio, pelos corredores do templo. Por uma janela, Jack observou alguns monges meditando. A dupla passou pelo pátio central e entrou na outra ala, uma construção menor, também escavada na rocha, e Kensei conduziu Jack por alguns lances de escada formada por degraus estreitos. Caminharam por alguns corredores até encontrarem uma porta fechada e vigiada por um monge. Ele falou, em seu idioma natal, assim que viu os dois lutadores:
- < Ninguém pode entrar aqui, a não ser o mestre! >
- Que porra que ele tá falando? - Jack perguntou a Kensei.
- Que não podemos entrar, por ordens do Mestre.
O pugilista cerrou os punhos, mas se manteve imóvel. Sua expressão mudou para um esboço de fúria e ele rosnou por entre os dentes:
- Como assim, "não podemos entrar"!?
- Calma, Jack. Me deixa conversar com ele.
Jack observou Kensei falando com o monge e por duas vezes teve a impressão de que ambos partiriam para as vias de fato. Então Kensei virou-se para ele com um sorriso no rosto, enquanto o monge destrancava a porta:
- Pronto! Nada que o diálogo não resolva.
Assim que entraram viram Wang deitado no chão. Cordas grossas prendiam seus braços e pernas. Uma tigela vazia jazia ao seu lado. Jack agarrou o homem pelo colarinho e o ergueu.
- Acorda, princesa! Acorda e começa a dar com a língua nos dentes!
Wang abriu os olhos.
- O que...? Jack!? O que está fazendo aqui?
- Não interessa o que eu to fazendo aqui. O que interessa é o que você tá fazendo aqui e porque sumiu no torneio de Las Vegas?
- Não pude evitar, me perdoe. Recebi notícias de que minha família e toda a vila onde morava estava em perigo. Larguei tudo imediatamente e voltei pra China.
- Tá. Digamos que eu acredite nisso. Quem atacaria uma vila inteira?
- Milicianos a serviço de um figurão local.
- E porque eles atacariam seus parentes? E mais importante, o que você tá fazendo aqui?
- É um conflito muito antigo, Jack. Eles me me obrigaram a vir aqui em troca da segurança da vila. Eles vão matar a todos se eu falhar!
Jack começou a perder a paciência com as evasivas de Wang e o sacudiu violentamente.
- Porra! - Gritou. - Desembucha logo o que você veio fazer aqui!!!
A expressão de Wang se alternou entre o medo e a vergonha.
- Eu vim assassinar o Mestre do Templo.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Trabalho

Outros compromissos me impediram de escrever nas últimas semanas, mas em breve teremos novos posts por aqui.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

De Volta ao Lar - Parte 4: O Primeiro Teste

Jack Punch estava cansado e dolorido. As últimas semanas treinando o Maka Wara foram extenuantes. Apesar disso, estava feliz por seu amigo ter sobrevivido ao ataque do tigre e por ter recebido autorização do Mestre Sheng para treinar com os monges. Era uma honra destinada a poucos e ele agarrou a oportunidade com unhas e dentes, dedicando-se em tempo integral.
Sentia os braços, pernas e costelas reclamando dos exercícios que os monges passavam. Àquela altura Jack não conseguia mais andar normalmente, pois seu corpo estava coberto por inchaços e feridas abertas que o forçavam a mancar - cada um delas devidamente enfaixada e tratada pelos unguentos do Monge Liu. "E eu achando que o pior de tudo seria a falta de mulher", pensava. Ainda assim, não se arrependia. Sabia que todo o sacrifício valeria a pena.
Ele também teve forças para comemorar com Kensei quando Mestre Sheng anunciou os Testes do Templo da Paz Celestial.
- Muitos monges fizeram os testes, mas foram raros os que tiveram êxito. - Kensei explicava enquanto descansavam em seus aposentos, eufórico após a conversa com o Mestre. - Estou confiante!
- E alguém já morreu nessa porra? - Um tom de zombaria acompanhava as palavras de Jack.
- Já. Mas fatalidades podem ocorrer em qualquer lugar, não?
- Sei. Poucos terminaram e alguns morreram. Quem não termina, sobrevive?
Jack caiu na gargalhada e Kensei respondeu com uma cara de desdém. Ele se recompôs e continuou:
- Como são esses testes?
- São três, cada um mede uma capacidade que o monge deve ter. O primeiro é sobre o conhecimento.: história da China, filosofia, essas coisas. Se eu passar, poderei fazer o segundo teste, que é de habilidade. Terei que vencer os maiores guerreiros do Templo em combate. Depois, farei o terceiro teste. Dizem que é um teste de vontade, onde tenho que vencer meus limites para provar o quanto quero ser um membro do Templo. Mas não sei muito sobre ele, só que passarei pelo labirinto.
- Que porra é essa?
- É uma galeria sob a montanha. Mas o que tem lá, eu não sei.
- E você deve morrer em qual deles? Suicídio pelo tédio do primeiro teste, espancado até a morte na luta contra os monges ou soterrado debaixo da montanha?

Na noite seguinte os testes começaram. Kensei foi levado a um grande salão ornado por uma estátua dourada do Buda. Mestre Sheng o esperava sentado sobre algumas almofadas. Aparentemente todos os monges do templo estavam ali. Um sino tocou e todos tomaram suas posições. A um sinal de Sheng, os monges se retiraram, em silêncio, deixando mestre e discípulo sozinhos e as portas foram fechadas. Jack também saiu, acompanhando monge Liu, que estava ao seu lado. Liu explicou num sussurro, enquanto caminhavam pelo corredor:
- Eles não devem ser incomodados. A sala será aberta apenas quando o teste terminar.
Aparentemente o teste levaria muito tempo. Jack não era o tipo de pessoa paciente e resolveu aproveitar o tempo treinando. Dirigiu-se para o pátio interno. Seu corpo dolorido reclamava de cada passo, mas ele estava decidido a dominar a nova técnica.
Assim que passou pela porta notou algo estranho: uma sombra se movia do outro lado do pátio. Jack se escondeu atrás de uma pilastra próxima e espiou. A figura estava coberta por um traje negro, provavelmente era um homem, Jack não podia dizer com certeza àquela distância. Ele se esgueirava em direção à porta, tentando não atrair a atenção dos monges. Em um canto distante e escuro havia uma corda, que se estendia do alto da amurada até bem perto do chão.
Jack esperou. Quando o invasor alcançou o trinco, o pugilista saltou de seu esconderijo e desferiu sua sequencia devastadora de uppercuts, sem chance de defesa. O invasor caiu pesadamente ao chão. No entanto, o esforço cobrou seu preço e a dor dos ferimentos ganhos no treinamento de Maka Wara fez o boxeador soltar um grito abafado e cair de joelhos.
Algumas feridas se abriram e aqui e ali surgiram pontos avermelhados nas bandagens. Jack tentou se recuperar rapidamente, mas não conseguiu. Estava no limite. Ele quis se levantar antes de seu oponente, mas só conseguiu cambalear e cair, gemendo de dor. Temia que o invasor se levantasse porque não tinha condições de lutar. Se aquele homem encapuzado se erguesse, não teria dificuldades para vencer Jack Puch.
Jack sentiu uma pontada de pânico crescendo e já se preparava para gritar por ajuda, rezando para que os monges chegassem a tempo, quando percebeu que o homem não se mexia. Arrastou-se para perto dele e o examinou. O invasor vestia uma roupa negra que lhe cobria o corpo todo e portava uma faca. Usava um capuz que deixava apenas os olhos à mostra. Sem demora, Jack arrancou o capuz.
Seus olhos se arregalaram quando reconheceu a face do homem que invadiu o Templo da Paz Celestial e o espanto não permitiu que contivesse as palavras:
- WANG!?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

De Volta ao Lar - Parte 3: O Templo da Paz Celestial

Kensei despertou. Não sabia onde estava, nem o que havia acontecido. Olhou em volta, tentando se situar. Estava deitado sobre uma esteira. As paredes eram escavadas na rocha e havia pouca mobília. Uma cortina simples cobria a entrada daquele quarto, cuja única fonte de luz vinha de uma lamparina a óleo que queimava sobre a mesa rústica na parede oposta. O lugar era familiar e ele levou alguns segundos para reconhecê-lo.
Tentou se sentar, mas uma pontada de dor nas costelas o forçou a voltar à posição original.
- Melhor ficar deitado. - Disse uma voz desconhecida, no idioma local. - Você precisa descansar.
A cortina se afastou dando passagem a um homem baixo, de cabelos raspados. Estava visivelmente acima do peso e exibia um sorriso tranquilizador.
- Você se feriu muito no ataque do tigre.
Subitamente as memórias voltaram. Kensei lembrou-se da dor lancinante que o assolou quando as garras do animal rasgaram sua carne e do hálito quente que a fera exalava quando cravou as presas em seu pescoço. Levou a mão ao ferimento, intrigado.
- Como eu sobrevivi?
- Seu amigo. Ele chegou até o portão e nos avisou. Os monges afugentaram o tigre e o trouxeram para cá. Você estava muito ferido, quase perdeu a vida. Por isso, precisa descansar.
- E onde está o Jack?
- Lá fora, treinando com os monges. Jack está aprendendo o Maka Wara.
Kensei quis perguntar, mas preferiu ficar calado. Seu amigo devia ter realizado um grande feito para ser recompensado com uma técnica dos monges. Resolveu deixar esse assunto para tratar mais tarde, com o próprio Jack.
- Quanto tempo eu fiquei desacordado?
- Cinco dias. Agora descanse. Você precisa recuperar suas forças. A propósito, meu nome é Liu. Me chame se precisar de alguma coisa.
Os dias seguintes foram difíceis para Kensei. Apesar da recuperação rápida, graças às técnicas de cura de Liu, ele estava muito debilitado e sentia muitas dores. Jack o visitava o tempo todo. Ele mancava e gemia baixinho de dor quando realizava determinados movimentos, provavelmente os frutos do treinamento a o qual vinha se submetendo.
Quando Kensei o interrogou, Jack contou que recebeu autorização para aprender o Maka Wara por ter salvo as vidas dos monges no ataque do tigre:
- Aquele bicho te largou quando os monges chegaram na escadaria e pulou sobre os caras! Aí foi uma confusão de bola de fogo voando pra tudo quanto era lado e, quando eu vi, o tigre tinha derrubado dois deles e tava por cima, pronto pra morder. Nem pensei duas vezes, fui lá e dei porrada! Então chegou mais gente do templo e eles fuzilaram o bicho. Nunca vi tanta bola de fogo junta! Ele ganiu, ou seja lá qual for o nome do barulho que aquela porra faz quando sente dor, e correu. Aí trouxeram o que restou de você pra dentro e te remendaram. Fim.
- E quando o Mestre autorizou você a treinar aqui?
- Uns dias depois. Eu tava caminhando por aí pra matar o tempo e vi os caras treinando. Um dava paulada no outro e nem pareciam sentir os golpes. Achei maneiro! Perguntei pro Liu, aquele monge que fala inglês, o que era aquilo e se podiam me ensinar. Ele me explicou e conversou com o Mestre. Tô todo fodido de ficar me batendo naquelas paradas. É madeira acolchoada, mas depois vou pra madeira nua, pedra... quando eu ficar calejado quero ver quem vai ser homem pra me acertar uma segunda vez!
Kensei sorriu. "Esse sofrimento todo não vai adiantar nada contra uma bola de fogo", pensou. Naquele instante Liu entrou no quarto, interrompendo a conversa.
- Não, não não! Não pode ficar conversando! Precisa descansar, Kensei. O Mestre quer vê-lo assim que estiver bem.
- Bom acho que isso é um "até mais", Jack.
Jack despediu-se e saiu do quarto.
Os dias tornaram-se semanas. Kensei teve uma melhora significativa, recuperando-se muito antes do esperado. Ainda mancava levemente, apoiado numa muleta improvisada, mas já estava fazendo pequenas caminhadas pelos jardins do Templo. Jack o acompanhava sempre. Não demonstrava mais sentir a dor do treinamento.
Era uma noite quente e abafada quando Liu trouxe um recado para Kensei:
- O Mestre quer vê-lo amanhã. Esteja no Jardim de Pedra após o desjejum.
Kensei concordou com a cabeça. Não haveria muitos problemas para estar lá no horário. Assim que Liu sumiu numa passagem, Jack se levantou.
- Vou dormir. Amanhã começo a bater em madeira nua. Acho que vou me estourar todo de novo.
Na manhã seguinte Kensei entrou no Jardim de Pedras no horário combinado. Apoiado em sua muleta, percorreu um curto caminho rodeado por incontáveis pedrinhas brancas que cobriam todo o chão. Aqui e ali havia pedras maiores, escuras e disformes sobressaindo-se às demais. Após alguns momentos ali, viu o Mestre. O velho parecia pequeno e frágil à distância, mas Kensei sabia que era uma aparência ilusória. Já vira o Mestre em ação e sabia da enorme força e poder que ele tinha.
Aproximou-se e saudou o ancião.
- Sente-se melhor?
- Sim, mestre. Monge Liu é um grande curandeiro!
O velho assentiu. Fez sinal com a mão para que o pupilo o seguisse por um caminho que havia entre as pedras. O Mestre admirava a paisagem enquanto caminhavam.
- Diga, Kensei, porque retornou?
- Eu busco aprimorar meu Kung Fu, Mestre.
- E não foi por isso que você deixou o Templo? Para se testar e se aprimorar?
- Sim, Mestre. Para me aprimorar em batalhas e testar meu Kung Fu.
- O que encontrou não o satisfez?
- Eu percebi que ainda há muito a aprender.
O mestre ficou pensativo por alguns minutos, apenas admirando o jardim. Kensei esperou pacientemente. Por fim, o velho voltou-se para ele com um olhar penetrante.
- Você pode aprender as técnicas do Templo da Paz Celestial. Mas primeiro precisa demonstrar que detém no espírito os nossos ensinamentos. Você deve se submeter aos testes do Templo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cammy Cosplay

Não tem nada a ver com a crônica, mas vale o post.



Não gostou? Tu é viado?